segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Un piccolo paese chiamato Mezzomonte


Por Edinei Santin, tetraneto do casal de imigrantes italianos Nicolò & Giacoma Santin

A busca pelas raízes familiares pode despertar encantamento em algumas pessoas e curiosidade em outras tantas. No meu caso, certamente, trata-se de encantamento. Motivado por este sentimento, no início do mês de Outubro do corrente ano visitei durante oito dias o local onde os meus tetravós Nicolò & Giacoma Santin habitavam antes de emigrarem para o Rio Grande do Sul em 1884.

Mezzomonte, além de berço dos meus tetravós, é berço de muitas outras famílias Santin que vieram a se estabelecer no Brasil, mas também em outros países sul-americanos. É importante, entretanto, fazer uma ressalva: nem todos os Santin são originários de Mezzomonte, visto que este sobrenome é comum em outras regiões da Itália.

Sendo uma das cinco frazioni (distritos) do município de Polcenigo, Mezzomonte, como o nome bem indica, localiza-se nas encostas de uma montanha, algo que, por si só, é bastante peculiar na região. A imagem abaixo mostra as características geográficas do local. A altitude com relação ao nível do mar é de 477 metros, e em relação ao vale, onde se situa o distrito de Gorgazzo (também pertencente a Polcenigo), e de aproximadamente 400 metros. Assim, para se chegar até Mezzomonte, deve-se percorrer uma estrada sinuosa e íngreme. Esta, porém, é toda asfaltada e bem sinalizada.

Vista panorâmica de Mezzomonte (clique sobre a imagem para aumentar)

O município de Polcenigo fica a aproximadamente 80 km ao norte de Veneza e a 60 km ao oeste de Udine. Atualmente, em todo o município, habitam pouco mais de 3.000 pessoas. Em Mezzomonte, especificamente, habitam cerca de 30 pessoas, um número relativamente baixo se comparado com o número de habitantes das décadas passadas (na década de 1950, por exemplo, habitavam cerca de 850 pessoas). Devido a esta queda acentuada na densidade demográfica, alguns pesquisadores falam no risco de extinção do distrito; porém, pelo carinho com que as pessoas se referem a Mezzomonte, não acredito que isso de fato irá acontecer.

Várias ruelas, denominadas de vicolo ou via, facilitam o acesso às casas e aos locais públicos, como o cemitério e a igreja. Uma destas ruelas, o Vicolo Forada, é mostrado na imagem abaixo. Nesta fotografia é interessante notar também como as casas são construídas. No geral, elas são feitas com pedras justapostas com argamassa de cimento, porém, no passado, utilizava-se uma espécie local de barro e também madeira para assentar as pedras, como ainda é possível ver nas casas mais antigas.

Vicolo Forada em Mezzomonte

Detalhes do assentamento de pedras com barro e madeira (casas antigas)

A igreja de Mezzomonte leva o nome de Sant’Antonio Abate (Santo Antão), santo protetor dos animais, e é mencionada pela primeira vez nos documentos em 1458. O campanário ao lado da igreja é mais recente, foi construído em 1958. Por sua localização e altura, esta torre é visível de praticamente todos os distritos de Polcenigo.

No interior da igreja encontram-se várias imagens, vitrais e afrescos nas paredes e no teto. O belo altar de mármore é do séc. XVI. No teto da igreja, é notória uma pintura que retrata um dos acontecimentos mais tristes da história de Mezzomonte: no dia 4 de Fevereiro de 1945, durante a 2ª Guerra Mundial, oito pessoas foram mortas, a tiro, pelos nazistas. Para completar o triste episódio, no mesmo dia, as casas dos humildes camponeses foram depredadas e incendiadas.

Igreja de Sant’Antonio Abate em Mezzomonte

Interior da Igreja de Sant’Antonio Abate

Pintura no teto da Igreja de Sant’Antonio Abate para retratar o triste episódio da 2ª Guerra Mundial

No cemitério de Mezzomonte, para além do sobrenome Santin, aparecem outros sobrenomes igualmente conhecidos no Rio Grande do Sul: Zanchet, Piazzon, De Bortoli, etc. Infelizmente, os túmulos mais antigos, de antes de 1850, não estão mais no local. Estes túmulos foram, com o passar dos anos, substituídos por outros mais recentes (provavelmente numa tentativa de limitar a área do cemitério).

São somente sete os sobrenomes originais de Mezzomonte: Alfier, De Bortoli, Della Rossa, Mezzarobba, Piazzon, Santin e Zanchet. Como mencionei anteriormente, nem todas as pessoas que carregam estes sobrenomes nos dias atuais são originárias de Mezzomonte. Para além do sobrenome, figuravam (e ainda figuram atualmente) os soprannomi (apelidos). Estes serviam para diferenciar os diferentes ramos familiares com o mesmo sobrenome. Assim, por exemplo, o meu tetravô chamava-se Nicolò Santin detto Canal, ou seja, tinha apelido Canal (era do tronco familiar dito Canal). Outros apelidos de Santin em Mezzomonte são Buset, Cesch, Longon, Tonon, e por aí afora.

Cemitério de Mezzomonte

O pacato distrito de Mezzomonte torna-se, anualmente, nos fins de semana do mês de Outubro, mais agitado. É época das castanhas e da tradicional Sagra della Castagna (Festival da Castanha). Neste festival ocorrem atividades culturais, recreativas, música ao ar livre, e pode-se saborear alguns pratos, doces e bebidas feitos com castanha (sim, existe uma cerveja feita com um certo percentual de castanha!), além, é claro, da própria castanha in natura assada ou crua.

Além dos produtos baseados na castanha, existem outras especialidades locais a disposição. Por exemplo, num almoço dentro da tenda do festival pude saborear um prato de gnocchi, recheado com carne bovina e queijo, acompanhado de duas belas fatias de polenta e três saborosas fatias de queijo recheado com castanha. Tudo muito delicioso e de deixar água na boca.

Programa da 28ª Sagra della Castagna (clique na imagem para aumentar)


Assadeira de castanhas (manuseada pelos assadores locais)

Gnocchi, polenta e queijo recheado com castanhas: uma das opções de almoço no festival

Por fim, não poderia não mencionar a hospitalidade e a receptividade que tive das pessoas de Mezzomonte e região. Fui de tal forma bem acolhido que me senti em casa desde os primeiros minutos. Com todas as pessoas que tive a oportunidade de conversar (e não foram poucas), todas, sem exceção, se mostraram interessadas e dispostas a interagir, apesar do meu italiano básico e rude.

Espero ter despertado a curiosidade de algum descendente Mezzomontino com este post sobre as nossas origens. Eu me disponho, dentro do possível, a esclarecer eventuais dúvidas sobre Mezzomonte. Para tal, basta fazer um comentário neste post, ou contatar-me diretamente através de email. Para o segundo caso, o meu endereço eletrônico encontra-se neste site: https://sites.google.com/site/nicolosantingiacomamezzarobba/ , que também disponibiliza mais informações sobre o ramo familiar dos meus tetravós Nicolò & Giacoma Santin.

3 comentários:

  1. Caro Edinei e demais leitores. Não me canso de ler este texto maravilhoso acerca da nossa eterna Italia, de Udine, Pordenone, especial Mezzomonte e região. Recentemente encontrei o blog do professor e escritor aposentado primo Silvino Santin, de Santa Maria, Rs, nele temos inumeras matérias que falam dos primeiros anos da colonização os falares dialetais, enfim, uma vida nova, e uma realidade que nós hoje em dia não encontramos mais, apenas em livros. Que saudades, grande abraço e obrigado.

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  2. Que bela publicação! Como descendente de polcenighese, me emocionou muito a leitura! Sou Santin/Mezzaroba/Scandolo. rogerio.sandoli@gmail.com

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