Por Edinei Santin, tetraneto do casal de imigrantes italianos Nicolò
& Giacoma Santin
A busca pelas raízes familiares pode despertar encantamento
em algumas pessoas e curiosidade em outras tantas. No meu caso, certamente,
trata-se de encantamento. Motivado por este sentimento, no início do mês de
Outubro do corrente ano visitei durante oito dias o local onde os meus tetravós
Nicolò & Giacoma Santin habitavam antes de emigrarem para o Rio Grande do
Sul em 1884.
Mezzomonte, além de berço dos meus tetravós, é
berço de muitas outras famílias Santin que vieram a se estabelecer no Brasil,
mas também em outros países sul-americanos. É importante, entretanto, fazer uma
ressalva: nem todos os Santin são originários de Mezzomonte, visto que este
sobrenome é comum em outras regiões da Itália.
Sendo uma das cinco frazioni (distritos) do município de Polcenigo, Mezzomonte, como o
nome bem indica, localiza-se nas encostas de uma montanha, algo que, por si só,
é bastante peculiar na região. A imagem abaixo mostra as características
geográficas do local. A altitude com relação ao nível do mar é de 477 metros, e
em relação ao vale, onde se situa o distrito de Gorgazzo (também pertencente a
Polcenigo), e de aproximadamente 400 metros. Assim, para se chegar até
Mezzomonte, deve-se percorrer uma estrada sinuosa e íngreme. Esta, porém, é
toda asfaltada e bem sinalizada.
Vista panorâmica de
Mezzomonte (clique sobre a imagem para aumentar)
O município de Polcenigo fica a aproximadamente
80 km ao norte de Veneza e a 60 km ao oeste de Udine. Atualmente, em todo o
município, habitam pouco mais de 3.000 pessoas. Em Mezzomonte, especificamente,
habitam cerca de 30 pessoas, um número relativamente baixo se comparado com o
número de habitantes das décadas passadas (na década de 1950, por exemplo,
habitavam cerca de 850 pessoas). Devido a esta queda acentuada na densidade
demográfica, alguns pesquisadores falam no risco de extinção do distrito;
porém, pelo carinho com que as pessoas se referem a Mezzomonte, não acredito
que isso de fato irá acontecer.
Várias ruelas, denominadas de vicolo ou via, facilitam o acesso às casas e aos locais públicos, como o
cemitério e a igreja. Uma destas ruelas, o Vicolo
Forada, é mostrado na imagem abaixo. Nesta fotografia é interessante notar
também como as casas são construídas. No geral, elas são feitas com pedras
justapostas com argamassa de cimento, porém, no passado, utilizava-se uma
espécie local de barro e também madeira para assentar as pedras, como ainda é possível
ver nas casas mais antigas.
Vicolo Forada em Mezzomonte
Detalhes do assentamento de
pedras com barro e madeira (casas antigas)
A igreja de Mezzomonte leva o nome de Sant’Antonio Abate (Santo Antão), santo
protetor dos animais, e é mencionada pela primeira vez nos documentos em 1458.
O campanário ao lado da igreja é mais recente, foi construído em 1958. Por sua
localização e altura, esta torre é visível de praticamente todos os distritos
de Polcenigo.
No interior da igreja encontram-se várias
imagens, vitrais e afrescos nas paredes e no teto. O belo altar de mármore é do
séc. XVI. No teto da igreja, é notória uma pintura que retrata um dos
acontecimentos mais tristes da história de Mezzomonte: no dia 4 de Fevereiro de
1945, durante a 2ª Guerra Mundial, oito pessoas foram mortas, a tiro, pelos
nazistas. Para completar o triste episódio, no mesmo dia, as casas dos humildes
camponeses foram depredadas e incendiadas.
Igreja de Sant’Antonio Abate em Mezzomonte
Interior da Igreja de Sant’Antonio Abate
Pintura no teto da Igreja de Sant’Antonio Abate para retratar o
triste episódio da 2ª Guerra Mundial
No cemitério de Mezzomonte, para além do
sobrenome Santin, aparecem outros sobrenomes igualmente conhecidos no Rio
Grande do Sul: Zanchet, Piazzon, De Bortoli, etc. Infelizmente, os túmulos mais
antigos, de antes de 1850, não estão mais no local. Estes túmulos foram, com o
passar dos anos, substituídos por outros mais recentes (provavelmente numa
tentativa de limitar a área do cemitério).
São somente sete os sobrenomes originais de Mezzomonte: Alfier, De Bortoli, Della Rossa, Mezzarobba, Piazzon, Santin e Zanchet. Como mencionei anteriormente, nem todas as pessoas que carregam estes sobrenomes nos dias atuais são originárias de Mezzomonte. Para além do sobrenome, figuravam (e ainda figuram atualmente) os soprannomi (apelidos). Estes serviam para diferenciar os diferentes ramos familiares com o mesmo sobrenome. Assim, por exemplo, o meu tetravô chamava-se Nicolò Santin detto Canal, ou seja, tinha apelido Canal (era do tronco familiar dito Canal). Outros apelidos de Santin em Mezzomonte são Buset, Cesch, Longon, Tonon, e por aí afora.
Cemitério de Mezzomonte
O pacato distrito de Mezzomonte torna-se,
anualmente, nos fins de semana do mês de Outubro, mais agitado. É época das
castanhas e da tradicional Sagra della
Castagna (Festival da Castanha). Neste festival ocorrem atividades
culturais, recreativas, música ao ar livre, e pode-se saborear alguns pratos,
doces e bebidas feitos com castanha (sim, existe uma cerveja feita com um certo
percentual de castanha!), além, é claro, da própria castanha in natura assada
ou crua.
Além dos produtos baseados na castanha, existem outras especialidades locais a disposição. Por exemplo, num almoço dentro da tenda do festival pude saborear um prato de gnocchi, recheado com carne bovina e queijo, acompanhado de duas belas fatias de polenta e três saborosas fatias de queijo recheado com castanha. Tudo muito delicioso e de deixar água na boca.
Programa da 28ª Sagra della Castagna (clique na imagem
para aumentar)
Assadeira de castanhas
(manuseada pelos assadores locais)
Gnocchi, polenta e queijo recheado com castanhas: uma das opções de almoço no festival
Por fim, não poderia não mencionar a
hospitalidade e a receptividade que tive das pessoas de Mezzomonte e região.
Fui de tal forma bem acolhido que me senti em casa desde os primeiros minutos.
Com todas as pessoas que tive a oportunidade de conversar (e não foram poucas),
todas, sem exceção, se mostraram interessadas e dispostas a interagir, apesar
do meu italiano básico e rude.
Espero ter despertado a curiosidade de algum
descendente Mezzomontino com este post
sobre as nossas origens. Eu me disponho, dentro do possível, a esclarecer
eventuais dúvidas sobre Mezzomonte. Para tal, basta fazer um comentário neste post, ou contatar-me diretamente através
de email. Para o segundo caso, o meu endereço eletrônico encontra-se neste
site: https://sites.google.com/site/nicolosantingiacomamezzarobba/ , que também disponibiliza mais
informações sobre o ramo familiar dos meus tetravós Nicolò & Giacoma
Santin.
Caro Edinei e demais leitores. Não me canso de ler este texto maravilhoso acerca da nossa eterna Italia, de Udine, Pordenone, especial Mezzomonte e região. Recentemente encontrei o blog do professor e escritor aposentado primo Silvino Santin, de Santa Maria, Rs, nele temos inumeras matérias que falam dos primeiros anos da colonização os falares dialetais, enfim, uma vida nova, e uma realidade que nós hoje em dia não encontramos mais, apenas em livros. Que saudades, grande abraço e obrigado.
ResponderExcluirGrazie, Gladimir!
ExcluirCordiali saluti.
Que bela publicação! Como descendente de polcenighese, me emocionou muito a leitura! Sou Santin/Mezzaroba/Scandolo. rogerio.sandoli@gmail.com
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